Era pela tarde e havia rio. E depois mar. E duas mãos que se agarravam. Era pela tarde e um livro de uma sereia ainda estava muito perto da ternura. Falaram de faróis. Como podiam ter falado de automóveis. Mas era o mar que estava mais perto e as gaivotas mais próximas ainda. E eram os barcos. Pela tarde foram apressadamente calmos. Porque tudo tinham para descobrir. Junto ao paredão o desejo era incontrolável.
Era pela tarde e havia rio. E depois mar. Por isso se falou de faróis, de ilhas, de travessias. Mais difícil se tornou aquele percorrer de tarde com o desejo todo embainhado. Sabia-se lá até quando. Não é que alguma coisa tivesse que acontecer. Mas tudo aconteceu pela tarde e tudo ficou por fazer. Ela não tinha nome para um livro. Nem para as palavras. Ele sabia isso.
Era pela tarde e Dezembro a acontecer intenso. E a noite já muito próxima. Nos bolsos o desejo. Nas mãos o desejo. No riso o desejo. No silêncio o desejo. Era já só isso. Ela lembrou-se que ele tinha olhos de pássaro desnorteado. Que parava os relógios na palma das mãos e que chegava sempre antes ao lugar do encontro. Lembrou-se que ele tinha rosto de menino que ainda corre atrás do arco e que ficaria zangado se alguém lhe dissesse isso. Lembrou-se das viagens que ele fez. Ficou por dentro delas com uma vontade enorme de o ter acompanhado. Ela estava a senti-lo daquele modo imenso e a pensar como seria bom se ele lhe passasse as mãos pelos cabelo.
Não tinham nada e no entanto davam-se tudo. Muito próxima a respiração. As palavras não diziam nada porque se tocavam as bocas.
(Paula)
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